Quem sou eu

Falar do nosso pai é usar a voz que vem do coração... é buscar na memória as histórias que nos foram contadas e as que vimos ser tecidas ao longo das nossas vidas. Acompanhamos a sua atuação em diferentes fronteiras, muitas estivemos presente e com certeza, as raízes da maioria delas vem lá do sertão. Foi por isso, que escolhemos as árvores de lá para compartilhar o olhar que temos sobre a vida dele. Entre Umbuzeiros e Algarobas, Juremas e Barrigudas, Anjicos e Aroeiras, Gameleiras e São Joeiros, na aridez da caatinga, no calor do sol sertanejo começou a formar as suas vocações.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Coerência

Não é muito difícil falar do reverendo, do professor Celso Dourado. O difícil é conseguir traduzir em palavras o que ele representa para a sociedade baiana, ireceense e daqueles que trabalharam ou conviveram diretamente com ele.
Eu tive este privilégio por duas vezes: no município de Irecê foi muito rápido e em Salvador a experiência foi bem mais profunda e de grandes aprendizagens.
Hoje, acredito que se existir uma palavra que possa representar Celso Dourado, ela só pode ser COERÊNCIA. Coerência de que a formação humana, integral, contempla corpo, mente e espírito.Coerência em lutar por esta formação através da educação de qualidade, sobretudo para aqueles que tem menos condições financeiras.Coerência no ambiente de trabalho, na vida pessoal, na família, na igreja...é, não consigo ver outra palavra porque me lembro do diretor lutando pelos interesses educativos das famílias, dos professores, dos estudantes.Vejo o pai amoroso, no mais expressivo que esta palavra possa representar.Vejo o marido que eu jamais vi em outro exemplo, o qual além de amoroso, é leal, companheiro, fiel e parceiro.Dona Neuza pode falar muito melhor que eu que vejo do lugar de quem está de fora.Vejo o avô que eu sempre sonhei para as crianças e adolescentes que trabalho...os netos que o digam.Vejo o bisavô com o mesmo brilho e luta constante pela vida...lembro da sua luta, em manter a família acreditando no Pai Celestial na luta pela sobrevivência de Dudinha nos primeiros meses de sua vida. E olha o quão esta luta foi importante!!!Tenho certeza que esta menina não foi um presente divino apenas para vocês familiares, mas para todos nós, amigos!
Vejo também um Celso menino, sorridente, sério e brincalhão, leitor proficiente pela prórpia natureza, incenticador das artes, da literatura, do teatro, da boa música e da busca pela evolução humana. Por estes motivos, só posso agredecer pela convivência com este homem, apesar de ser o aniversário dele, não é possível afastar a imagem de Celso da de Neuza.Obrigada por vocês existirem.Neste momento a emoção me impede de continuar as palavras. Daqui do sertão, envio um forte, sincero, com admiração e respeito.
Jane Machado

P.S: Segue uma lembrança que guardo dessa coerência.Obrigada pro meu filho ter convivido com este VOVOZÃO!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O olhar de uma companheira de lutas e realizações

Celso, Reverendo Celso, Diretor Celso, mas
AMIGO CELSO

A emoção é grande quando Lila pede que se escreva depoimentos sobre Celso. Não vou negar os olhos meio molhados e a dificuldade de compor um depoimento.
São tantas as recordações pessoais, tantos os momentos - de descontração, de seriedade, de urgência, de atenção, cuidado e carinho. Tem muita história pra contar, de fato.
Ainda tem o SER HUMANO digamos, público - a integridade, a seriedade, a percepção aguda de tantos fatos, a coragem de bancar situações, no Colégio 2 de Julho, por exemplo, em todo o tempo que lá ensinei, e devo registrar logo que fui para lá a chamado de Celso. Celso deputado e antes durante a campanha. Celso diretor e com meus filhos. Celso pastor, que nunca o foi para mim formalmente. Celso no Largo da Lapinha, no comício pela Anistia. Os flashs vão se sucedendo!!
Tem muita coisa. Estou me comprometendo em ir registrando, até aquele dia em que Ricardo foi à diretoria para reclamar: Ela não é má, ela é mau! Aliás, em uma demonstração da ética que rege a vida deste sujeito, devo testemunhar que fui professora de Mabel (que eu amo, como todos os demais frutos deste casal) e só descobri que ela era filha do diretor no ano seguinte.

um beijo,
Isadora Browne Ribeiro

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Inspirado na vida dos seus pais, em uma fé que nutria a força e a bravura para enfrentar os desafios da vida simples, em um cantinho isolado no sertão, começou a construir a sua história.
Junto a seus muitos irmãos aprendeu desde cedo o valor da palavra de Deus. Na labuta da roça, na escassez da água e na imensidão dos espaços sem fim conheceu a fé presbiteriana que orientou os seus passos ao longo da sua vida. Uma fé presente naquele lugar tão distante, graças aos devotados missionários que proclamavam o evangelho e iniciavam crianças, jovens e velhos na leitura e na escrita para compreender as mensagens bíblicas. Assim, desde cedo, descobriu uma fé engajada na vida, na educação e nos espaços públicos e andando por muitos lugares levou consigo, no interior da sua alma, as passagens sertanejas e as lições que de lá tirou.
Aos 13 anos de idade, para seguir a sua vocação, de homem de fé e da palavra, migrou para São Paulo em busca de uma formação que fortalecesse o potencial daquele menino. No Colégio José Manoel da Conceição, educandário presbiteriano encontrou guarida a sua ânsia de aprender. Viu-se sozinho e perdido em um mundo tão distante e distinto dos seus rincões da caatinga.
Com as árvores do semi-árido, aprendeu a resistir as intempéries  da vida.
Do umbuzeiro, a planta sagrada do sertão, como profetizou Euclides da Cunha, levou a resistência e capacidade de armazenar, guardar na memória as suas raízes adaptando-se  e desafiando as estiagens da vida.
Com as ausências da família e dos amigos, muitas vezes, sentiu-se como o umbuzeiro perdendo todas as folhas, passando a depender do que estava mais escondido no âmago da sua alma sertaneja, assim como o umbuzeiro depende  da sua batata interior. Fortalecido pela busca do seu ideal via renascer as suas forças, como nas primeiras chuvas das trovoadas, os umbuzeiros voltam sempre a florir.
Foi seguindo o seu caminho, da mesma maneira que estas árvores nativas nasciam se retorcendo para amenizar o sol escaldante do sertão, como um ato de fé depositado na sabedoria, que corresponde à produção de frutos por muitos anos, com ou sem chuva na caatinga, garantindo a sobrevivência e cultivando a esperança.
Em tempo de pós-guerra, urgia proclamar o sonho de um mundo mais justo e mais humano. Sobre toda a face da terra reinavam a violência e a destruição. Vinha à memória o chão esturricado, após longa estiagem, rezes mortas sob a névoa empoeirada, fome e sede, famílias sofridas, pobreza e miséria, No meio deste cenário, aparecia também a algaroba que oferecia o frescor da sua sombra e com ela, trazia as mansas conversas dos adultos e as barulhentas brincadeiras das crianças, renovando as esperanças em um tempo novo em que a justiça social e a oportunidade de aprender chegassem a todos.
Cultivando sonhos de libertação, muitas vezes encontrou obstáculos, tiranias institucionalizadas em nosso país. Como a barriguda, uma das árvores de grande porte mais ameaçadas da caatinga aprendeu a retirar de onde se espera pouco, o alimento armazenado para resistir e idealizar uma nação mais democrática.
Foi inspirado na beleza bem peculiar do sertão, que nem todos são capazes de ver, que construiu princípios e idéias que até hoje norteiam as suas ações como educador cristão. Resgatando na memória a visão da flor do caruá, do verde da palma, do São Joeiro florido aprendeu o significado da educação que respeita a singularidade e potencialidade de cada um, as diferenças, despertando em cada um a sua beleza interior.
Como as abelhas mandassaia e jandaira, bebendo o mel e beijando a flor do pau-d’arcuo e do pau pereira, Celso encontrou o seu doce amor e com ela cultiva belos jardins.
Nas suas idas e vindas, nas lidas da vida, como todo sertanejo, nunca se sente só, pois sabe que a sua alma sempre se fortalece, na grandeza do ciclo da vida, na vivência da dimensão humana da fé.
E assim,  acompanhando o poeta da esperança, juntos recitamos:
"Se não houver frutos,
valeu a beleza das flores;
se não houver flores,
valeu a sombra das folhas;
se não houver folhas,
valeu a intenção da semente."
Henfil
Que de cada um de nós passe a brotar a intenção da semente!!
“Pois será como a àrvore plantada junto ao ribeiro de água cujos frutos não secam, mas tudo o que fizer prosperará” Salmo I
Homenagem dos seus filhos na ocasião da passagem dos 50 anos de Magistério. 2008.