Quem sou eu

Falar do nosso pai é usar a voz que vem do coração... é buscar na memória as histórias que nos foram contadas e as que vimos ser tecidas ao longo das nossas vidas. Acompanhamos a sua atuação em diferentes fronteiras, muitas estivemos presente e com certeza, as raízes da maioria delas vem lá do sertão. Foi por isso, que escolhemos as árvores de lá para compartilhar o olhar que temos sobre a vida dele. Entre Umbuzeiros e Algarobas, Juremas e Barrigudas, Anjicos e Aroeiras, Gameleiras e São Joeiros, na aridez da caatinga, no calor do sol sertanejo começou a formar as suas vocações.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Inspirado na vida dos seus pais, em uma fé que nutria a força e a bravura para enfrentar os desafios da vida simples, em um cantinho isolado no sertão, começou a construir a sua história.
Junto a seus muitos irmãos aprendeu desde cedo o valor da palavra de Deus. Na labuta da roça, na escassez da água e na imensidão dos espaços sem fim conheceu a fé presbiteriana que orientou os seus passos ao longo da sua vida. Uma fé presente naquele lugar tão distante, graças aos devotados missionários que proclamavam o evangelho e iniciavam crianças, jovens e velhos na leitura e na escrita para compreender as mensagens bíblicas. Assim, desde cedo, descobriu uma fé engajada na vida, na educação e nos espaços públicos e andando por muitos lugares levou consigo, no interior da sua alma, as passagens sertanejas e as lições que de lá tirou.
Aos 13 anos de idade, para seguir a sua vocação, de homem de fé e da palavra, migrou para São Paulo em busca de uma formação que fortalecesse o potencial daquele menino. No Colégio José Manoel da Conceição, educandário presbiteriano encontrou guarida a sua ânsia de aprender. Viu-se sozinho e perdido em um mundo tão distante e distinto dos seus rincões da caatinga.
Com as árvores do semi-árido, aprendeu a resistir as intempéries  da vida.
Do umbuzeiro, a planta sagrada do sertão, como profetizou Euclides da Cunha, levou a resistência e capacidade de armazenar, guardar na memória as suas raízes adaptando-se  e desafiando as estiagens da vida.
Com as ausências da família e dos amigos, muitas vezes, sentiu-se como o umbuzeiro perdendo todas as folhas, passando a depender do que estava mais escondido no âmago da sua alma sertaneja, assim como o umbuzeiro depende  da sua batata interior. Fortalecido pela busca do seu ideal via renascer as suas forças, como nas primeiras chuvas das trovoadas, os umbuzeiros voltam sempre a florir.
Foi seguindo o seu caminho, da mesma maneira que estas árvores nativas nasciam se retorcendo para amenizar o sol escaldante do sertão, como um ato de fé depositado na sabedoria, que corresponde à produção de frutos por muitos anos, com ou sem chuva na caatinga, garantindo a sobrevivência e cultivando a esperança.
Em tempo de pós-guerra, urgia proclamar o sonho de um mundo mais justo e mais humano. Sobre toda a face da terra reinavam a violência e a destruição. Vinha à memória o chão esturricado, após longa estiagem, rezes mortas sob a névoa empoeirada, fome e sede, famílias sofridas, pobreza e miséria, No meio deste cenário, aparecia também a algaroba que oferecia o frescor da sua sombra e com ela, trazia as mansas conversas dos adultos e as barulhentas brincadeiras das crianças, renovando as esperanças em um tempo novo em que a justiça social e a oportunidade de aprender chegassem a todos.
Cultivando sonhos de libertação, muitas vezes encontrou obstáculos, tiranias institucionalizadas em nosso país. Como a barriguda, uma das árvores de grande porte mais ameaçadas da caatinga aprendeu a retirar de onde se espera pouco, o alimento armazenado para resistir e idealizar uma nação mais democrática.
Foi inspirado na beleza bem peculiar do sertão, que nem todos são capazes de ver, que construiu princípios e idéias que até hoje norteiam as suas ações como educador cristão. Resgatando na memória a visão da flor do caruá, do verde da palma, do São Joeiro florido aprendeu o significado da educação que respeita a singularidade e potencialidade de cada um, as diferenças, despertando em cada um a sua beleza interior.
Como as abelhas mandassaia e jandaira, bebendo o mel e beijando a flor do pau-d’arcuo e do pau pereira, Celso encontrou o seu doce amor e com ela cultiva belos jardins.
Nas suas idas e vindas, nas lidas da vida, como todo sertanejo, nunca se sente só, pois sabe que a sua alma sempre se fortalece, na grandeza do ciclo da vida, na vivência da dimensão humana da fé.
E assim,  acompanhando o poeta da esperança, juntos recitamos:
"Se não houver frutos,
valeu a beleza das flores;
se não houver flores,
valeu a sombra das folhas;
se não houver folhas,
valeu a intenção da semente."
Henfil
Que de cada um de nós passe a brotar a intenção da semente!!
“Pois será como a àrvore plantada junto ao ribeiro de água cujos frutos não secam, mas tudo o que fizer prosperará” Salmo I
Homenagem dos seus filhos na ocasião da passagem dos 50 anos de Magistério. 2008.

Um comentário:

  1. Pai, querido!

    Que linda data hoje! Este é mais um momento de dar muitas graças a DEUS. Obrigada pelo lindo exemplo de vida, pelas palavras sempre sábias nos momentos certos, pelo amor e carinho de um modo todo especial... TE AMO! Como queria estar celebrando junto este dia! Saudades! Beijo da filha JU e um grande abraço de Eduardo, Mateus e Alexandre!

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