Quem sou eu

Falar do nosso pai é usar a voz que vem do coração... é buscar na memória as histórias que nos foram contadas e as que vimos ser tecidas ao longo das nossas vidas. Acompanhamos a sua atuação em diferentes fronteiras, muitas estivemos presente e com certeza, as raízes da maioria delas vem lá do sertão. Foi por isso, que escolhemos as árvores de lá para compartilhar o olhar que temos sobre a vida dele. Entre Umbuzeiros e Algarobas, Juremas e Barrigudas, Anjicos e Aroeiras, Gameleiras e São Joeiros, na aridez da caatinga, no calor do sol sertanejo começou a formar as suas vocações.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CELSO DOURADO, OITENTÃO!


Minha chegada a Salvador se deu em 1979. Ainda vivíamos os tempos sombrios da ditadura. Fui trabalhar no Colégio 2 de Julho. Nele conheci uma pessoa que me chamou a atenção devido a algumas posições e atitudes que tomava. Sobretudo posições políticas que eram profundamente pedagógicas. E corajosas.
Primeiro, com a Lei da Anistia, foi o 2 de Julho que abriu suas portas, cedendo o auditório para recepcionar os exilados políticos que voltavam dos mais diferentes países. Os cabelos brancos esvoaçantes de Diógenes Arruda Câmara, Elza Monnerat, o lendário Carlos Prestes, dentre tantos outros, se abraçando entre risos e lágrimas pela emoção do encontro e da alegria de o povo brasileiro ter imposto a anistia ao regime militar. Esse momento quem propiciou foi o 2 de Julho.
Depois veio o 1º de maio, que foi proibido pelos donos do poder no momento, de ser realizado no Campo Grande. Novamente foi o 2 de Julho que franqueou seu campo de futebol para que o ato fosse realizado.
Veio a campanha pelas Diretas Já! Quem hospedou o então senador gaúcho, Paulo Brossard, que veio fazer um debate sobre o tema em Salvador? Foi o Colégio 2 de Julho.
O 2 de Julho era considerado o colégio onde o alunado mais respirava liberdade. O grêmio tinha sua própria sala, onde os jovens pichavam as paredes com suas palavras de ordem. Detalhe que pode parecer insignificante hoje, mas um sobrinho meu, que estudava em outro colégio à época, me disse que ficou com inveja dos colegas do 2 de Julho. Seu colégio sequer tinha grêmio, quanto mais uma sala própria e com liberdade para pichar, colar cartazes etc. Não era à toa, portanto, que os jovens egressos de lá se destacavam nas Universidades como estudantes que já levavam questionamentos e brigavam pelos seus direitos de cidadania.
Pois bem, o personagem que era mentor desses acontecimentos e pela colocação do velho 2 de Julho no epicentro das questões de ordem política e social na cidade do Salvador era o seu diretor, reverendo e professor Celso Dourado. E agora, quando ele completa seus 80 anos, quero, com essas palavras, dizer que ninguém é insubstituível, é verdade. Mas que há pessoas que fazem muita diferença, isso posso assegurar que há. Celso é uma dessas personalidades que deixam marcas positivas por onde passam.
Meus parabéns, reverendo. Sinto-me honrado por ter tido a oportunidade de conhecê-lo, e trabalhar com o senhor. Desejo-lhe muitos anos de vida ainda para semear cidadania por onde andar.

Zilton Rocha

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