Se Sartre diz que "cada homem deve inventar seu caminho", creio que "perder-se também é caminho", como disse Clarice Lispector.
É caminho quando é uma escolha, quando a escolha é se perder no "Luar no chão do SERTÃO", nosso lugar no mundo, ninho, aconchego, esperança e transcendência, é VIDA bem vivida, VIDA autêntica, revelada pelos mestres mais originais, os que vieram antes de nós e são árvores, sementes e frutos deste lugar... São o chão de terra vermelha, torrão que vira barro, que ganha forma e luz, de sol a sol, nas casinhas e quitutes no quintal, que hoje meus netos revivem. Ou então, como temos feito, neste tempo mais recente, na nossa brincadeira quase infantil, mas profunda, de olharmos as novas sementes, brotarmos e fazermos multiplicar, como metáforas do valor de seguir em frente ... São também narrativas vivas que as novas gerações desejam conhecer na fonte: a casa em que você viveu desde criança, vive e escolheu para ser o nosso santuário, o lugar sagrado, forte inspiração, canto de cura, memórias que dão identidade aos Regis Dourado e todos os nossos aliados.
Nós escolhemos lhe ter como inspiração, inclusive para compreender e elaborar tanta luta e labuta, na busca de mais vida para todos, mais justiça, educação, mais amor, fé e esperança, mesmo quando o mundo diz não.
SIM, suas lições encarnadas, do menino franzino até o homem maduro e experiente, exemplo vivo no aqui e agora, me fazem lhe considerar, o meu melhor professor, que ensina com exemplo e muita prosa. Homem que reconhece suas forças, coerências, contradições e fragilidades, que escolhe a VIDA sem negar a morte, que sabe que só é possível continuar em relação, que hoje prefere falar e escutar as crianças, que sabe que os jovens e adolescentes apaixonados cultivam fé e esperança visceralmente (e por isso, não podem se perder de si mesmos - "são aqueles de boa cabeça e bom coração"!!!), que o confronto, a provocação, o contraponto são necessários para os adultos mais experientes e, por isso, você sempre restitui a cada um, a confiança em si mesmo e nas relações escolhidas, tecidas e destecidas e, na coragem de buscar sonhos e possibilidades, mesmo que em meio ao quase impossível.
Sua força, nos impulsiona, sua fé nos faz acreditar e ter esperança, sua persistência e determinação nos une nas divergências, nos convida a exercitar a sabedoria de quem sabe que somos eternos, nos
permitindo cultivar a delícia de todas as prosas e versos com esta gente nossa, da nossa caatinga, do nosso sertão. Para assim, seguirmos cultivando a utopia de sermos um mano, humanos, no SER TÃO, que coloca no horizonte o compromisso e a expectativa de continuarmos construindo o caminho, nas nossas caminhadas, sempre juntos, todos e cada um.
Amo você, pai, sigo aprendendo todos os dias, junto com os meus, com os nossos, de braços dados.
Sou o que sou, pelos pais que escolhi e que me escolheram. Gratidão eterna. FELIZ 90, rumo aos 100, "em cima dos calcanhares".
Com carinho, respeito e admiração, Lila
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